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As experiências sensoriais de Amelie Poulain



Vivemos em tempos de correria, de pensar em muitas coisas ao mesmo tempo e deste mesmo tempo ter uma escassez assustadora. Por isso mesmo, uma das minhas inspirações para escrever é criar a possibilidade de retornar para uma certa “inocência”. Essa expressão, aliás, me traz à mente uma música, chamada “Return to innocence”, muito tocada nas rádios brasileiras na década de 90.
Mas não é de nostalgia que quero falar. No filme “O fabuloso destino de Amelie Poulain”, podemos ver com abundância (e de uma forma extremamente minuciosa), como pequenas experiências sensoriais podem nos dar prazer.
Aliás, o prazer destas experiências, para Amelie, supera o prazer sexual no início de sua narrativa. No filme, aparecem tantas situações cotidianas banais em que os personagens mostram pequenos prazeres. Amelie, por exemplo, coloca sua mão numa saca de ervilha. Há anos atrás, os supermercados vendiam grãos desta forma: comprava-se feijão, ervilha e outras variedades, pesando-os na hora. Quando vi aquela cena no filme, ao mesmo tempo em que achei bizarra, me identifiquei, porque foi exatamente isso que eu fazia há anos atrás num balcão de supermercado. Eu adorava ir ao supermercado com meu pai e colocar a mão dentro daquele saco enorme de grãos. Às vezes, era censurada com um “menina, não mexe aí!”. Ah, meu pai não sabia como era bom colocar a mão ali dentro...
Foi aí que comecei a pensar em outras experiências sensoriais aparentemente banais, mas que se as experimentássemos na infância ou em qualquer fase da nossa vida, saberíamos como elas são prazerosas.
Estourar plástico bolha, cortar folhas de E.V.A, estourar bolhas de sabão, passar cola na pele e arrancar a casquinha, são alguns exemplos.
Talvez, você que esteja lendo esse texto, pense: por que alguém escreveria sobre algo tão banal? Esta pessoa não é normal!
Por mais esquisito que possa parecer, uma das verdades que me convenci é de que a natureza humana é a mesma. Isso significa que, por mais bizarrices que você possa apreciar ou praticar, haverá alguém no mundo que compartilha disso.
Prova disso é a internet. Num mundo de blogs, canais de vídeos e outros meios cibernéticos, as pessoas encontram espaço para extravasarem sua natureza. Alguém vai ler o que você escreveu, alguém vai assistir seu vídeo, ou mesmo ver um comentário seu numa rede social qualquer... e mais ainda: vai se identificar!
Por isso, escrever sobre prazeres corriqueiros me pareceu algo sedutor, porque é de nossa natureza buscar coisas que nos tragam prazer, ainda mais se for instantâneo. Deixem aflorar suas experiências sensoriais, apertem as bolinhas de uma porção de sagu, pisem numa folha seca para ouvir o “Creeec”, rasguem um copinho de plástico ou outra bizarrice qualquer. Esses momentos fazem parte da formação do ser humano. Permitam-se!

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