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Mostrando postagens de julho, 2019

O poder do agora?

Quem já leu algumas crônicas minhas, já deve ter percebido como eu sou nostálgica, saudosista, uma amante do passado, de tempos que trazem boas recordações. Como uma menina nascida no último ano da década de 70 e criada no rigor dos anos 80, trago comigo algumas memórias. E essas memórias me fazem criar alguns links com o que estou vivendo hoje. Estes dias, tenho utilizado com frequência o transporte público. Já, inclusive, escrevi sobre isso. No entanto, minhas observações de hoje se deitam sobre as pessoas. Eu tenho o hábito de observá-las, enquanto faço meu longo trajeto (loongasss duas horas e meia pra ir e duas horas e meia pra voltar). Evidentemente, não sou a única: milhares de paulistanos fazem essa viagem diariamente, atravessando a cidade para ir trabalhar. O que tenho observado são pessoas imersas nos universos de seus celulares, e confesso que isso me causa curiosidade, afinal, o que tanto se faz num aparelho que se tornou a extensão do nosso corpo? Alguém já tinha

As experiências sensoriais de Amelie Poulain

Vivemos em tempos de correria, de pensar em muitas coisas ao mesmo tempo e deste mesmo tempo ter uma escassez assustadora. Por isso mesmo, uma das minhas inspirações para escrever é criar a possibilidade de retornar para uma certa “inocência”. Essa expressão, aliás, me traz à mente uma música, chamada “Return to innocence”, muito tocada nas rádios brasileiras na década de 90. Mas não é de nostalgia que quero falar. No filme “O fabuloso destino de Amelie Poulain”, podemos ver com abundância (e de uma forma extremamente minuciosa), como pequenas experiências sensoriais podem nos dar prazer. Aliás, o prazer destas experiências, para Amelie, supera o prazer sexual no início de sua narrativa. No filme, aparecem tantas situações cotidianas banais em que os personagens mostram pequenos prazeres. Amelie, por exemplo, coloca sua mão numa saca de ervilha. Há anos atrás, os supermercados vendiam grãos desta forma: comprava-se feijão, ervilha e outras variedades, pesando-os na hora. Quand

A gambiarra e a cilada

A nossa casa precisa de manutenção. Aquela gambiarra pode gerar um prejuízo muito maior ou, como diz o ditado popular, “o barato sai caro”. Pra nós (eu e meu marido) saiu mesmo. Alguns meses após o casamento, a porta de entrada do nosso apartamento, daquelas bem baratas e nada duradouras, começou a dar problema na maçaneta. Certo, meu marido colocou um prego de emergência, e esquecemos do assunto. Aquela era uma “tragédia anunciada”. Dito e feito. Certo dia, voltei do trabalho e o marido estava na faculdade. Quando coloquei a chave e girei, a porta não abria. Simplesmente não abria. O que fazer? Doida pra ir ao banheiro, tomar um banho, comer, chegar em casa de verdade e nada. Ouvi, na primeira tentativa, o barulho do prego caindo. E o autor da gambiarra só ia chegar à meia-noite! Bom, sem saber como agir, chamei meu irmão que mora no mesmo condomínio, o “Ursulão” da família. O apelido “Ursulão” refere-se àquele desenho antigo que o pai do Ursulino decide consertar tudo na cas

O Shopping Trem

Quem mora em São Paulo sabe que, para ir a muitos lugares, o meio mais fácil é o transporte público. Mas que fique bem claro: de longe é o mais desconfortável. De uns tempos pra cá, tenho utilizado o trem em alguns sábados, que tem se mostrado mais prático do que utilizar o carro. Os paulistanos vão me entender: dirigir em São Paulo aos sábados é uma aventura, principalmente porque muita gente só utiliza seu veículo aos finais de semana. O trem tem algumas peculiaridades bem desagradáveis. Por exemplo, a demora e as centenas de ambulantes que circulam pelas linhas. Em minhas viagens, já vi de tudo: venda de doces, de fones de ouvido, de aparelhos eletrônicos que eu até desconheço a utilidade e muitos outros artigos. A febre do momento das crianças é o hand spinner , que é comercializado em média por R$20,00. Pois no trem é vendido a R$5,00! A procedência destes produtos? Duvidosa. Mas o sucesso de vendas é garantido. Vi pais chamando o vendedor para, certamente, levar um agr

A inocência perdida

As imagens que compartilhamos em redes sociais ou em aplicativos vêm sendo uma das formas mais atuais de reflexão sobre nossa condição humana. Alguém discorda? Quantas vezes, não vemos frases sobrepostas em imagens, que materializam uma série de sentimentos? É fácil saber quando uma pessoa está indignada, pensativa, nostálgica, triste ou até decepcionada por essas frases sobrepostas compartilhadas em redes sociais. Posso tomar meu exemplo. Outro dia, há alguns meses, me deparei com a seguinte reflexão: Parei para pensar um pouco no que deixei de ser. Não falo isso com eventual amargor que a maturidade possa ter me trazido. Falo, aqui, da sensibilidade que meu olhar tinha sobre coisas simples. Da inocência, da ingenuidade, da capacidade de enxergar beleza nas coisas pequenas e até imperceptíveis aos olhos de muita gente. Era um dia de verão em que parei para refletir sobre o assunto e, dado o calor, desci do meu “apertamento” (nunca me imaginei vivendo em 48m²!, sou do

A DESCULPA OPORTUNISTA OU “MANUAL DE COMO SE LIVRAR DO TELEMARKETING”

Já fui uma operadora de telemarketing: 19 anos, sem experiência comprovada em carteira, precisando trabalhar, sim, lá fui eu! Acreditem, é constrangedor. É constrangedor oferecer seguro de vida no cartão de crédito em plena sexta-feira às 20 horas ou em pleno sábado pela manhã. Percebemos e sabemos quando estamos incomodando. Por vezes, somos maltratados, ouvindo um sonoro “NÃO QUERO” dito assim, claramente. Mas estamos ali para isso, afinal, se fosse fácil, as empresas não terceirizariam esse tipo de serviço, elas mesmas o fariam. Ao menos esse foi o discurso durante o treinamento. Bem, pensando por esse lado e também no fato de que há um ser humano, cidadão e trabalhador do outro lado da linha, fica mais difícil despachar a ligação de maneira grosseira. Ao menos para mim, que já fui a “invasora de lares”. Outro dia, eu estava saindo do meu apartamento, e tenho uma vizinha que fala suuuper alto ao telefone. Mora sozinha e, em prédios, você escuta muitas coisas sem querer.