Quem
já leu algumas crônicas minhas, já deve ter percebido como eu sou nostálgica,
saudosista, uma amante do passado, de tempos que trazem boas recordações. Como
uma menina nascida no último ano da década de 70 e criada no rigor dos anos 80,
trago comigo algumas memórias. E essas memórias me fazem criar alguns links com
o que estou vivendo hoje.
Estes
dias, tenho utilizado com frequência o transporte público. Já, inclusive,
escrevi sobre isso. No entanto, minhas observações de hoje se deitam sobre as
pessoas. Eu tenho o hábito de observá-las, enquanto faço meu longo trajeto
(loongasss duas horas e meia pra ir e duas horas e meia pra voltar).
Evidentemente, não sou a única: milhares de paulistanos fazem essa viagem
diariamente, atravessando a cidade para ir trabalhar.
O
que tenho observado são pessoas imersas nos universos de seus celulares, e
confesso que isso me causa curiosidade, afinal, o que tanto se faz num aparelho
que se tornou a extensão do nosso corpo? Alguém já tinha pensado sob esta
perspectiva?
Essa
curiosidade, ou mesmo a proximidade com que as pessoas ficam de mim nos
horários de pico me levam, inexoravelmente, a observar o que tanto fazem.
Há
aqueles que estão apenas passando o tempo com joguinhos. Outros ouvem músicas,
assistem vídeos, conseguem se concentrar em séries e ficam olhando suas redes
sociais, vendo a vida se recriar de maneira feliz e perfeita... ou não. Sabemos
que em redes sociais tem de tudo: daquele que tira foto do prato que está
comendo àquele que declara o seu amor a uma mulher sentada bem à sua frente
numa mesa de restaurante, daquele que tem uma vida cheia de aventuras àquele
que reclama de tudo.
Esse
ímpeto de postar, postar e postar, me levam a pensar o porquê fazemos isso. Por
que nos tornamos tão dependentes de curtidas? Por que sempre estamos olhando a
vida alheia? O que isso nos traz, efetivamente, de benefício?
A
tecnologia, no entanto, tem seu lado bom. Tenho tido a oportunidade (ohhhh,
oportunidade!) de adentrar o mundo dos aplicativos. Com a necessidade, descobri
o aplicativo que me mostra aonde está o ônibus que preciso pegar e quanto tempo
ele vai demorar. Isso ajuda a acabar com a minha ansiedade em saber se
demorarei ou não pra chegar em casa.
Bom,
para os amantes de música, também descobri um aplicativo que identifica a
música que está tocando, e me dá o nome do artista e da canção. Para os meninos
desta geração, talvez cause estranheza eu dizer que eu ficava horas e horas
ouvindo rádio, esperando acabar o bloco de músicas, para que o locutor dissesse
o nome do artista e música, mas nem sempre ele dizia.
Tudo
está a um clique de distância. Tudo é imediato. Eu pesquiso o que quiser na
hora em que quiser. Não tenho mais a espera. Não preciso adiar minhas
necessidades, porque ali, naquele aparelho, consigo tudo. Imediatamente.
Imediatamente...
o agora nunca esteve tão presente em nossas vidas. Conseguimos tudo agora,
neste momento. E este imediatismo não estaria migrando para nossas relações?
Será que não queremos tudo rápido demais, tudo agora? O ansioso é beneficiado
por esse “poder do agora”? O poder que temos em nossas mãos, de satisfazer
nossas vontades?
Hoje,
pensei muito sobre isso. Quando, na década de 80, se pensaria que alcançaríamos
tamanhas facilidades? Há coisas que vivi, que experimentei, que esperei e que
saboreei a espera, o processo, ainda que este processo fosse frustrante.
Sim,
quando o locutor não falava qual a música, eu ficava frustrada, porque minha
espera tinha sido em vão. Podemos comparar com os dias de hoje, em que você
está louco para ver um filme, e alguém lhe dá um spoiler, estraga seu barato de
saber o que vai acontecer.
A
espera era o que nos movia, e ficávamos satisfeitos com ela. Hoje, temos tudo
muito fácil, muito rápido e, com isso, queremos que tudo seja assim. Comemos a
comida ainda quente pela pressa, sem o momento de saboreá-la. Esta é apenas uma
metáfora, mas que ilustra bem o quão frágil somos diante de tanta tecnologia,
de tanta facilidade.
De
qualquer forma, a beleza de outrora, as frustrações e as conquistas eram
digeridas com muitas sensações. Sabíamos esperar. Hoje, temos uma geração que
tem tudo muito fácil, tudo rápido, imediato. Esse é realmente o poder do agora?
Estou fazendo um trocadilho com o que muitos terapeutas chamam do “poder do
agora”. Não é do pensar no hoje, para não gerar ansiedade, mas penso em como
essas facilidades impactaram na nossa vida.
Hoje,
estou descobrindo o mundo dos aplicativos. Mas não perco minha essência. Gosto
dela! Gosto de comparar como eram as coisas e como são agora. Minha geração
merece respeito! Talvez, só quem viveu isso, me compreenda. Temos como falar
sobre esses dois tempos tão diferentes. As novas gerações vivem a incerteza do
amanhã, pois nossas crianças viverão em um mundo que não sabemos como será. Não
sabemos quais novas profissões surgirão, que tecnologias ainda estão por vir.
De
hoje, posso dizer que aprecio as descobertas dos aplicativos. Já consigo prever
qual a temperatura de amanhã, se devo ou não levar meu casaco e meu
guarda-chuva.
Tudo
está ali, disponível na hora em que eu quiser e que precisar, facilitando a
minha vida, acabando com qualquer espera necessária. Rápido, prático e
imediato. Mas, nem por isso, as pessoas são mais felizes. Quanto a mim? Me
contento em observar as pessoas, em ver seus comportamentos num cotidiano em
que elas olham para baixo, em que elas não percebem quem está ao seu lado,
imersas no mundo tecnológico, tão atraente, e tão traiçoeiro. Coisas da vida
contemporânea.
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