Quem
mora em São Paulo sabe que, para ir a muitos lugares, o meio mais fácil é o
transporte público. Mas que fique bem claro: de longe é o mais desconfortável.
De uns tempos pra cá, tenho utilizado o trem em alguns sábados, que tem se mostrado
mais prático do que utilizar o carro.
Os
paulistanos vão me entender: dirigir em São Paulo aos sábados é uma aventura,
principalmente porque muita gente só utiliza seu veículo aos finais de semana.
O
trem tem algumas peculiaridades bem desagradáveis. Por exemplo, a demora e as
centenas de ambulantes que circulam pelas linhas. Em minhas viagens, já vi de
tudo: venda de doces, de fones de ouvido, de aparelhos eletrônicos que eu até
desconheço a utilidade e muitos outros artigos.
A
febre do momento das crianças é o hand
spinner, que é comercializado em média por R$20,00. Pois no trem é vendido
a R$5,00! A procedência destes produtos? Duvidosa. Mas o sucesso de vendas é
garantido. Vi pais chamando o vendedor para, certamente, levar um agrado ao seu
filho.
A
concorrência é grande. Por vezes, fica até difícil conversar, porque são três
ou quatro vendedores falando de uma só vez. Chega a ser perturbador tantas
vozes bradando ao mesmo tempo.
Nas
últimas viagens que fiz, no entanto, não pude deixar de me divertir. Sim!
Alguns desses vendedores fazem propagandas que divertem os passageiros. Uma das
mais conhecidas é o “Shopping Trem”. Já ouvi esta expressão algumas vezes, e
sempre é motivo de risadas pelos passageiros.
Esse
termo, por si só, já me diverte. Da última vez que viajei de trem, no entanto,
foi muito engraçado. Um rapaz entrou para vender um aparelho eletrônico (algo
pra melhorar as selfies em celulares)
e, ao começar a falar, outro ambulante também iniciou sua propaganda. Daí
começou o desabafo dele:
- Eu fiquei esperando passar uns cinco trens pra fazer
minha propaganda sozinho, mas sempre aparece mais alguém. Por acaso alguém
entendeu alguma coisa do que eu falei? Claro que não! Essa gritaria na orelha
de vocês atrapalha minhas vendas. Olha, eu já nem sei mais o que estava
falando! Pelo amor de Deus! A competição aqui está muito grande, a gente nem
consegue falar nada. Acho que vou caçar outra coisa pra fazer, porque tá
difícil. Olhe, o cara fica berrando vendendo bala e como eu vou vender? Assim não
dá, sinceramente vou desistir dessa moléstia.
Por
mais que tentasse, definitivamente, eu não conseguiria transmitir em palavras o
quanto o momento foi hilário. Ele realmente poderia ser comediante, porque seu
desabafo foi tão engraçado, que os passageiros do trem começaram a rir muito, a
conversar com ele, a aconselhá-lo a não desistir e a se acalmar.
Pensem:
num transporte em que as pessoas estão no seu mundinho, mexendo em seus
celulares ou perdidas em pensamentos, preocupações e em seu cansaço, vem um
cara e consegue arrancar gargalhadas. Não é uma façanha?
Evidentemente,
não se tratava de horário de pico, em que as pessoas viajam espremidas. Era um
sábado à tarde, mas o trem estava relativamente cheio. E foi realmente uma
situação nada convencional. Aqueles risos se multiplicaram e as pessoas saíram
na próxima estação comentando, rindo e com semblantes mais leves. Por essas e
por outras que eu amo minha cidade. Quando você pensa que já viu de tudo, se
surpreende.
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