O BANHEIRO UNISSEX
Há
certas modernidades, digamos assim, certos avanços sociais que podem nos
colocar em situações um pouco constrangedoras. Há um tempo atrás, iniciei um
curso presencial de pós-graduação, que ocorria todos os sábados, o dia todo.
Longe
dos bancos de uma universidade há algum tempo, meu retorno foi bastante
prazeroso, pois gosto de cursos presenciais por acreditar sinceramente que nada
substitui a interação com colegas e professores.
Logo
de cara, o que mais me chamou a atenção foi uma placa na porta do banheiro, em
que estava escrito “Banheiro Unissex”. Como assim? Iria passar meus sábados na
universidade e escovar meus dentes na frente dos “meninos”? Não dava pra usar o
espelho com a mesma naturalidade que se faz entre garotas.
Evidente
que fui utilizar este banheiro, via as pessoas com o mesmo constrangimento que
eu. Como muitas colegas também tinham seus pudores em relação a isso, a
universidade disponibilizou banheiros separados em outro andar. Mas, ali, bem
em frente à sala de aula, era muito mais prático.
Ir
ao banheiro, com o passar do tempo, foi ficando automático, e eu já nem pensava
mais sobre isso. Chegava em cima da hora pro curso (era duro acordar cedo aos
sábados) e depois entrava mais umas duas vezes naquele banheiro.
Eu
me acostumei e o assunto foi esquecido. Mas, num sábado, fui a uma lanchonete fast food e de lá ia para o curso. Fui
utilizar o sanitário.
A
questão é que entrei no banheiro masculino sem me atentar às placas. Estava lá
dentro, passando meu batom, quando um rapaz abriu a porta, me olhou
desconcertado e saiu rapidinho. Não entendi tal comportamento, ainda disse que
“não havia problema, eu o desculpava” (olha o disparate!).
Continuei
lá, passando meu batom, ajeitando a maquiagem e fazendo as feminices que as
mulheres fazem no banheiro. Então, um outro rapaz entrou e me disse: “ei, moça,
aqui é o banheiro dos meninos”.
Daí
eu olhei pro lado e vi um mictório. Sim, ele estava lá desde que entrei e eu
não vi. Naquele dia, estava sozinha, ou seja, não teria ninguém que pudesse me
salvar daquela situação.
Saí
do banheiro como um raio e da lanchonete também. Ia até tomar um sorvete, mas
desisti e, certamente, estava vermelha como um pimentão. Esse fato me deu duas
possibilidades sobre mim mesma: ou eu estava tão moderna com o lance do
banheiro “Unissex”, que não me importei, ou eu estava tão no automático do
curso e da correria que entrei no banheiro correndo, pois ainda tinha que ir
para o período da tarde do curso. Existe uma terceira, a de que eu realmente
sou desatenta e entrei lá por pura distração. Os “meninos” ficaram tão
constrangidos quanto eu, e eu ri de mim mesma por um bom tempo.
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