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A cantada no Busão



Ele era o típico adolescente. 17 anos, trabalhava desde os 14 e naquele ano era office boy. Na década de 90, muitos garotos iniciavam sua vida profissional neste ofício. Eram tantas aventuras: passavam debaixo da roleta para guardar o dinheiro do táxi ou da passagem de ônibus, faziam amizade com as atendentes dos bancos e às vezes conseguiam furar a fila e, entre um serviço e outro, ainda arranjavam encontros com as minas das redondezas.
Ele não era bonito, era verdade... mas tinha uma lábia! Era xavequeiro demais, tinha bom papo, e com isso as conquistava. E se não conquistasse, não tinha problema. O importante era que tinha amigos, que se divertia, fazia farra.
Ele entrou no busão como de costume. Era a hora de ir embora. O trajeto era longo, mas ele pegava o ônibus no ponto final, então ia sentado. Dormia quase que todo o trajeto. Naquele tempo, não havia faixa exclusiva de ônibus, nem rodízio e, por isso, o trajeto da estação da Luz até a Penha levava mais de uma hora.
Naquele dia, porém, quando ele entrou no ônibus, havia uma mina bonita que já estava sentada. O momento perfeito para uma investida. Mas tinha que ser criativo, afinal, queria impressionar. Ele se sentou ao lado dela e teve a brilhante ideia de escrever um bilhete, num pedaço pequeno de papel que tinha utilizado para marcar o endereço de uma entrega. Assim, iniciou-se um diálogo escrito:
- Oi, tudo bem? – ele pergunta.
- Sim! E com você? – ela responde.
- Tudo bem. Você está voltando para casa?
- Sim.
- E como você se chama?
- Vanessa. E você?
- Jairo.
- Onde você mora, Vanessa?
- Moro em São Miguel, e você?
- Moro na Penha. Vanessa, o papel está acabando, o que vamos fazer?
- Não sei...
Neste momento, ele a olhou abrindo os braços como quem diz: “e agora?”. Ela também o fez. Ele disse:
- Você não vai responder nada?
Ela, espantada, respondeu:
- Meu, você é louco? Eu pensei que você era mudo!
Ele riu e iniciou-se uma conversa, com ele jogando todo o seu charme, chamando-a de guria (essa era para impressionar) e, lá pelas tantas, com o busão parado, ele decidiu pedir o telefone dela. Neste momento, ela pediu licença, virou-se e, como estava sentada na janela, vomitou. Que situação constrangedora!
Ela lhe informou que havia comido uma marmita e que não havia lhe caído bem. Ele riu sem graça, mas com vontade e, quando ela perguntou o motivo, ele respondeu:
- Meu, eu tava aqui te xavecando e acontece isso? E eu acabei de pedir seu telefone!
- Desculpa...você ainda quer?
- Tá, dá aí vai...
Depois do ocorrido, eles seguiram viagem sem conversas. Ele não via a hora de descer do busão. Assim que desceu, ele rasgou o papel com o telefone da garota e seguiu para casa. Não era seu dia de sorte...


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