As imagens que compartilhamos em redes sociais ou em
aplicativos vêm sendo uma das formas mais atuais de reflexão sobre nossa
condição humana. Alguém discorda? Quantas vezes, não vemos frases sobrepostas
em imagens, que materializam uma série de sentimentos? É fácil saber quando uma
pessoa está indignada, pensativa, nostálgica, triste ou até decepcionada por
essas frases sobrepostas compartilhadas em redes sociais.
Posso tomar meu exemplo. Outro dia, há alguns meses, me
deparei com a seguinte reflexão:
Parei para pensar um pouco no que deixei de ser. Não falo
isso com eventual amargor que a maturidade possa ter me trazido. Falo, aqui, da
sensibilidade que meu olhar tinha sobre coisas simples. Da inocência, da
ingenuidade, da capacidade de enxergar beleza nas coisas pequenas e até
imperceptíveis aos olhos de muita gente.
Era um dia de verão em que parei para refletir sobre o
assunto e, dado o calor, desci do meu “apertamento” (nunca me imaginei vivendo
em 48m²!, sou do tempo das casas com quintais, em que amarrávamos uma rede e ficávamos
lá deitados por horas) e fui para a beira da piscina tomar um pouco de sol e
aproveitar o fim de tarde.
Há anos não contemplava o céu! Me lembrei, subitamente, que
deixei de procurar desenhos nas nuvens, que deixei de olhar o céu azul como
algo inspirador. Claro, celular à mão, não poderia deixar de registrar aquela
beleza.
Naquele dia, fiquei por horas olhando o céu e aproveitando
aquele momento de paz. Sim, tínhamos paz! E precisávamos de tão pouco...
Tempos atrás, estava conversando com uma colega de trabalho
e comentando da minha infância e as novelas. A minha ingenuidade era tanta, que
me recordo perguntando pra minha mãe: “mas essa moça não tinha morrido na
novela anterior”? Minha mãe, com paciência e até mesmo achando graça da minha
inocência, me explicava a verdade. Também comentamos que, as novelas tinham um
gosto diferente, acompanhávamos cada capítulo, vivíamos as alegrias e angústias
daqueles personagens. O tempo foi passando, e hoje já não assisto mais novelas.
Não vejo mais ternura, enredos capazes de me prender como
era antes. Talvez eu tenha perdido a capacidade de enxergar seus encantos. No
entanto, penso em como coisas pequenas nos faziam felizes, como o tempo era
loongooo, mas muito bem aproveitado.
O acesso à informação nos tornou mais independentes, é
verdade. Acredito que também nos roubou o prazer das pequenas coisas, porque
poucas coisas nos entretêm por muito tempo, procuramos uma novidade atrás da
outra.
Penso que o prazer era a descoberta, a busca. Querem um
exemplo: quantos de nós (claro, dos adultos nascidos há mais de trinta anos)
não se pegou xingando um locutor de rádio porque estava ansioso para gravar uma
música que ia tocar e aquela “criatura” falava no final da música? Eram horas
de espera para tamanha decepção.
Quando lançaram o CD, cheguei a perguntar quantas músicas
havia em cada lado... imaginem só! Quanta inocência!
É fato que eu poderia discorrer aqui sobre tantas outras
coisas perdidas ao longo da minha vida. Éramos felizes e sabíamos disso! Mas as
novidades foram nos atropelando e procuramos fôlego para nos acostumarmos até
que no dia seguinte outras apareçam. São coisas do mundo moderno, acho...
Acho válido pensarmos sobre isso, não num momento de “crise
existencial”, mas como uma forma de trazer à tona a ideia de que as coisas
simples nos fazem felizes. Olhar uma flor, admirar a lua cheia, as nuvens
branquinhas e “fofinhas”, ler um livro, praticar o ócio sem culpa, admirar um
ninho de passarinhos, o barulho das aves em bando no fim da tarde pousadas
sobre as poucas árvores que restaram (sim, elas estão lá, outro dia ouvi de
dentro do meu carro, parada num semáforo), talvez sejam paradas necessárias
para este cotidiano turbulento que vivemos.
Há pessoas que fazem essas paradas jogando Candy Crush, olhando suas redes sociais,
por exemplo. Mas o que eu falo é a contemplação. É ir à praia e olhar o mar sem
a tentação de tirar uma foto no celular. Coisas simples, mas que considero como
essenciais e que demonstram como nossa inocência foi perdida.
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