Hoje dedico meus escritos a estes guerreiros sociais: os
professores. O primeiro núcleo em que convivemos é a nossa família e o segundo
é a escola. Considerando que iniciamos nossa escolarização com, no mínimo,
quatro anos de idade, seguramente posso afirmar que a escola é a extensão da
família, e o adulto que ali comanda é a referência. Tarefa difícil, não é?
Muito bem, há coisas que os pais não fazem. Mães não fazem
sexo. Alguém por acaso já se pegou imaginando tal situação? Duvido. Por
conseguinte, professores, que são a extensão dos adultos da família, também
não!
Não estou aqui para falar de sexo. Mas sim das ideias e
fantasias das crianças sobre estes profissionais tão importantes. A recordação
que tenho é que, lá na década de 90 (vejam bem, eu já estava no Ensino Médio,
conhecido como Colegial) e fui lá “alugar” uma professora no seu sagrado
período de intervalo.
Naquela época, não havia o cerco aos fumantes como se tem
hoje. Assim que apareci na porta da sala dos professores e chamei:
“professora!”, logo corei... afinal, todos olharam e adolescente tímida, já
viu, né, detesta chamar a atenção!
Foi nesse momento que falei o nome da professora e que ela
me olhou eu pude ver uma cena inacreditável: ELA ESTAVA FUMANDO! Sei que
pareceria absolutamente normal, mas não foi. Como assim, professor fuma????
Acho que eu nunca tinha pensado sobre o assunto, que aliás era bem corriqueiro,
pois meus pais eram fumantes e mais um bando de gente conhecida. Minhas amigas
já davam seus “traguinhos”. Mas, não, não podia ser, uma professora fumante era
demais para mim.
Anos depois, tornei-me professora também, mas para ensino
infantil e fundamental. Daí, fui eu a vítima de algumas indagações. Não sou
fumante, mas já me peguei ouvindo a seguinte pergunta: “professora, você tem mãe?”. E quando respondo que sim, aqueles
olhos ficam desconcertados, pois se já sou adulta, não tenho mais pai nem mãe,
ao menos na lógica deles.
Voltando a falar do sexo, certa vez, uma amiga professora,
mãe de quatro filhos, me falou que sua filha acreditava que ela havia feito
sexo apenas quatro vezes na vida, quando teve os filhos. E ela, claro,
confirmou. A filha descobrirá com o tempo que não é bem assim.
Ainda que os professores não tenham o mesmo prestígio
social de outrora, ainda somos um referencial para crianças e adolescentes. Os
pequenos reparam e falam, sem o menor constrangimento, se engordamos, se
emagrecemos, se estamos usando maquiagem, se usamos brincos, se trocamos a
armação dos óculos, se estamos tristes. A sensibilidade infantil é reveladora.
E quando nos perguntam: “professora, além de dar aulas, você faz o que?” ou ainda “professora, você trabalha?”. Sim, já me
deparei com estas duas perguntas, e penso que somos tão familiares a eles, que
não concebem a docência como uma profissão.
Tanto é, que nos fazem de confidentes. Sabemos de todos os
babados familiares, das mentiras que os pais (às vezes!) contam. Vejam, pais
podem mentir, professores NÃO!
Convivemos com todos os aspectos do ser humano quando
convivemos com crianças. Os punzinhos na sala já revelaram a seguinte reflexão
de uma professora na época do meu estágio: “a
gente estuda tanto pra ficar sentindo cheiro de peido de aluno!”. É verdade!
E o fizemos por escolha! Escolhemos lidar com seres humanos e com tudo o que
vem no pacote.
Passamos por maus bocados, mas também por situações
divertidíssimas! Arrisco até a dizer que os alunos reparam mais na professora
dos que seus próprios maridos.
Professores são, praticamente, seres de outro planeta, eles
não fumam, não bebem, não mentem, vieram de um ninho qualquer, são cidadãos
exemplares, não soltam pum e muito menos fazem xixi e cocô. São pessoas com
quem temos muito a aprender, mas a quem nossas crianças acabam, diariamente,
ensinando também.
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